quinta-feira, 26 de junho de 2008

Planeamento de um Questionário - Trabalho de Grupo


O Grupo constituído pelos mestrandos Bruno Miranda, Carla Alves, Henriqueta Costa, Odília Leal e Teotónio Cavaco apresentou o seguinte Planeamento de Realização de um Questionário.
Introdução

DEFINIÇÃO DO CONCEITO

1. Questionário:

. Série de questões que se colocam a um informador, que podem envolver as suas opiniões, as suas representações, as suas crenças ou várias informações factuais sobre ele próprio ou o seu meio.
. Instrumento de base de todo o inquérito extensivo. Nele podemos incluir questões abertas e / ou questões fechadas: as primeiras caracterizam – se pelas respostas totalmente livres, enquanto as segundas se caracterizam pela apresentação de lista de respostas (possíveis).
. As respostas às questões abertas são, geralmente, mais ricas, mas torna – se necessária a interpretação e a “codificação” das mesmas (através da análise de conteúdo).
. A elaboração de um questionário exige uma sólida formação técnica e uma experiência do inquérito sob todas as suas formas.
. Como todos os instrumentos de medida, o questionário tem os seus limites, mas é, sem dúvida, uma ferramenta insubstituível (para estudar as diferenças de opinião e acompanhar a sua evolução no tempo ou, ainda, para descrever a estrutura e as condições de vida de uma população).
. É um instrumento muito utilizado em investigação educacional, podendo ser complementado com outro (s)[1].


2. As grandes linhas (de orientação) de um questionário:

. Deve revestir–se obrigatoriamente de um rigor estandardizado, quer ao nível das questões colocadas, quer, ainda, ao nível da sua ordem.
. Deve permitir / facultar a comparabilidade das respostas de todos os entrevistados – tornando–se, desde logo, necessário formular as questões (a todos os entrevistados) da mesma forma, isto é, sem que se proceda a alterações, adaptações e / ou explicações suplementares resultantes da iniciativa do entrevistador.
. Deve incluir um grupo de questões perfeitamente claras, que não ofereçam qualquer margem para dúvidas ou susceptíveis de qualquer tipo de ambiguidade.
. Deve incluir questões que, na sua essência, não se prestem à sugestão de respostas (em particular) e à expressão de expectativas.
. Deve ser “criterioso” na ordem que atribui às questões a formular: deve parecer uma “simples” troca de palavras e surgir de forma tão “natural” quanto possível; deve procurar o “encadear” das questões evitando–se as repetições e a inserção de questões “despropositadas”.
. Deve procurar abarcar uma certa variedade no tipo de questões formuladas para “quebrar” a monotonia (principalmente se estivermos na presença de um questionário longo).
. Deve ter em conta o tempo que será destinado à sua realização, não devendo ultrapassar uma hora; se estivermos na presença de um questionário constituído, na sua generalidade, por perguntas fechadas, este não deve ultrapassar os 45 minutos (Ghiglione e Matalon).


3. A apresentação do questionário deve contemplar os seguintes itens:

. A apresentação do investigador (que deve conter os elementos indispensáveis para o credibilizar perante os inquiridos).
. A apresentação do tema (que deve ser feita de forma clara e simples, dando a conhecer a importância do papel dos inquiridos no âmbito da investigação em curso).
. As instruções (que devem ser, também elas, precisas, claras e curtas, evitando–se, desde logo, as que possam trazer alguma ambiguidade ou que se revelem demasiado complicadas).
. O questionário, quando enviado por correio, deve ser acompanhado de um envelope selado ou com resposta paga. A qualidade e a cor do papel devem ser adequadas ao público–alvo.
. A sua disposição gráfica deve ser clara e adequada ao público a que se destina - a mancha gráfica deve ser aberta e visualmente atractiva.
. O formulário deve ser revisto (revisão gráfica) tendo em vista a correcção de (possíveis) gralhas ortográficas e / ou erros sintácticos – factores estes que conduziriam, de imediato, a uma perda de credibilidade por parte dos inquiridos.
. O número de folhas deve ser reduzido ao mínimo, de forma a evitar reacções “negativas” por parte dos inquiridos.
Muito importante:
. É necessária a realização de um pré – teste (antes de se proceder ao questionário, efectivo) para que possamos (investigadores) averiguar as condições em que o questionário será aplicado, a sua qualidade gráfica e a adequação da carta e das instruções que o acompanham.
. Proceder, após a redacção do questionário, ao seu “ensaio” para verificarmos se: * as questões são compreendidas da forma “inicialmente” prevista pelo investigador;
* há questões susceptíveis de poder influenciar as questões seguintes;
* a ordem das questões obedece a uma lógica compreensível pelos inquiridos;
* há motivos para fenómenos de fadiga, aborrecimento ou qualquer reacção menos positiva, susceptíveis de alterar o comportamento de resposta.. Proceder a antecipações, construindo quadros fictícios, de modo a evitar respostas impossíveis de interpretar ou, apenas interpretáveis se forem acompanhadas de perguntas suplementares. Este procedimento permite, também, detectar repetições desnecessárias.
. Determinar a aceitabilidade das perguntas, passando a uma “aplicação em pequena escala”, em condições idênticas às da “aplicação definitiva”, de forma a determinar as reacções ao questionário. Nesta fase devem ser registadas todas as dificuldades encontradas.
. Verificar a aplicabilidade e a relevância das respostas, através de um “teste piloto”, no qual se procede a um ensaio da aplicação do questionário, evitando–se, desta forma, incompreensões e erros de vocabulário e de formulação. O teste piloto permite, ainda, verificar se a introdução motiva os participantes e se as instruções e as perguntas estão claramente redigidas.


PRÉ – PLANEAMENTO

1. Questões Prévias à Elaboração do Questionário
(base do trabalho investigativo):
- Escolher o tema;
- Levantar problemas;
– Estabelecer a Hipótese Geral;
- Rever a literatura sobre a temática;
- Decidir o tipo de investigação (Réplica, Confirmação, Melhoria ou Extensão);
- Descrever e caracterizar o Universo-alvo;
- Definir a amostra do estudo, em função do Universo:
* casual (aleatória simples, sistemática, estratificada, por clusters, multi-etápica, multi-fásica)
* não casual (por conveniência, por quotas);
- Proceder a:
* autorizações superiores (Ministério, CE’s…);
* motivação;
* como se pretende proceder à recolha…

2 - Construção do Questionário:
- Realizar um estudo preliminar para averiguar questionários já realizados sobre a temática:
* Revisão;
* Teste de questionários existentes.

PLANEAMENTO DO QUESTIONÁRIO

3 - Elaboração de novo questionário
- Elaborar uma grelha de especificações (para comparação das questões do estudo com os tópicos do questionário);
- Listar todas as variáveis da investigação, incluindo as características dos casos;
- Especificar o número de perguntas para medir cada uma das variáveis;
- Elaborar uma versão inicial para cada pergunta;
- Reflectir cuidadosamente sobre:
* a natureza da primeira hipótese geral;
* as variáveis e perguntas iniciais com ela associadas
- Identificar que tipo de hipótese se tem:
* as que tratam de diferenças entre grupos de casos
* as que tratam de relações entre variáveis
- Decidir de quais as técnicas estatísticas adequadas para testar a hipótese, tendo em atenção os pressupostos destas técnicas, consoante o tipo de hipótese geral
- Decidir o tipo de escala de medida:
* nominal
* ordinal
* de intervalo
* de rácio
- Decidir o tipo de resposta desejável para cada pergunta associada com a hipótese geral:
a) Qualitativa - descrita por palavras pelo respondente;
b) Qualitativa - escolhida pelo respondente a partir de um conjunto de respostas alternativas fornecido pelo autor do questionário;
c) Quantitativa - apresentada em números pelo respondente;
d) Quantitativa - escolhida pelo respondente a partir de um conjunto de respostas alternativas fornecido pelo autor do questionário.
- Elaborar hipótese operacional, com base na informação dos passos anteriores;
- Considerar as perguntas iniciais (e os tipos de respostas) associadas com a primeira hipótese operacional e, caso necessário, «poli-las» de forma a chegar a versões finais que possam, eventualmente, ser incorporadas no questionário;
- Verificar se as versões finais das perguntas ainda estão adequadas para testar a hipótese operacional;
- Repetir os 7 passos anteriores para as outras hipóteses gerais;
- Elaborar as instruções associadas com as perguntas para informar o respondente acerca de como deve responder;
- Planear as secções do questionário:
* A primeira secção deve ser sempre para obter informação sobre as características dos casos (= respondentes: pessoas, famílias, instituições, sectores da indústria, países, regiões de um país, etc.) para os descrever e deve obedecer às seguintes regras:
a) A escolha das características deve prever que sejam estritamente relevantes (para evitar uma excessiva extensão do questionário, bem como o risco de falta de cooperação do respondente);
b) A escolha das características dos casos deve ter em consideração todas as hipóteses da investigação e os detalhes dos casos requeridos para descrever a amostra e replicar a investigação;
c) Se algumas características forem quantitativas, há duas alternativas:
. Ou se usa a resposta escrita em números (medida numa escala de rácio, portanto, exacta);
. Ou a escolha perante um conjunto de respostas alternativas (medida numa escala ordinal, portanto, mais flexível, mas menos exacta, logo, mais frágil).
- Rever o aspecto gráfico do questionário;
- Validar o questionário pela revisão, por um painel de especialistas, que deverá avaliar a substância das questões e as suas características técnicas.
- Aplicar o questionário, a título experimental, a uma amostra que não a do estudo.

Prós e Contras do Questionário
(Inquérito por questionário)

Prós:
. Sistematização;
. Maior simplicidade de análise;
. Maior rapidez na recolha e análise de dados: pode ser aplicado a um maior número de pessoas (oriundas de diversas localizações geográficas) e em menos tempo; a análise pode ser automatizada;
. Mais barato;
. Permite que as pessoas respondam no momento que lhes pareça mais adequado;
. Há menos possibilidade de enviesamento pelo inquiridor: não expõe os pesquisados à influência do pesquisador;
. Garante o anonimato das respostas: as questões embaraçosas não inibem o entrevistado.
Contras:
. Dificuldades de concepção;
. Envolve, geralmente, um número pequeno de perguntas;
. Não é aplicável a toda a população: exclui, por exemplo, a participação de pessoas analfabetas;
. Impossibilidade de acrescentar dados suplementares;
. Impossibilidade de ajudar no caso de haver dúvidas por parte do inquirido;
. Impede o conhecimento das circunstâncias em que o questionário foi respondido;
. Não oferece garantia de que a maioria das pessoas o devolvam preenchido de forma “completa” (todos os parâmetros);
. Elevada taxa de não respostas; *
. Proporciona resultados bastante críticos no que respeita a objectividade: maior superficialidade das respostas.


* Notas:
a) - De salientar que, no estudo em questão, é referido que “apesar do processo não ter sido fácil, consideramos que os resultados de respostas obtidas foram razoáveis, dada a persistência com que os professores foram relembrados do preenchimento, e muito especialmente graças ao empenhamento dos Conselhos Executivos e/ou delegados de grupo ou de departamento que constituíram âncoras fundamentais para o sucesso da metodologia” (tese em análise).
b) - Vários factores podem condicionar o volume de devoluções dos questionários, nomeadamente:
. A natureza da pesquisa – se esta se revestir de utilidade “prática” para o inquirido, a taxa de respostas tende a aumentar;
. O tipo de inquirido – os inquiridos que apresentam um maior nível de habilitações académicas geralmente são os que tendem a responder com mais frequência; por seu turno, os indivíduos que apresentam níveis de instrução baixos tendem a não responder;
. O sistema de perguntas – quanto mais simples for o sistema de perguntas (quanto ao nível de objectividade ou de clareza), maior será a probabilidade de aumentar a taxa das respostas;
. A clareza e acessibilidade das instruções – este item encontra–se, desde logo, inter-relacionado com o item anterior: quanto mais fáceis e claras forem as instruções de preenchimento, maior êxito se prevê no número de respostas; as instruções de teor complexo e muito extensas podem “desmotivar”, conduzindo à não – colaboração por parte dos inquiridos;
. As estratégias de reforço – o envio de cartas de anúncio do lançamento do inquérito, cartas de legitimação da utilidade social ou cientifica (feitas por entidades credíveis) ou, ainda, cartas enviadas aos não – respondentes oferecendo-lhes uma 2ª oportunidade …



CONCLUSÃO

O questionário é um instrumento de recolha de dados, através da realização de questões apresentadas por escrito, as quais deverão ser respondidas igualmente por escrito. Este instrumento, que tem como objectivo a recolha de informação detida pelos respondentes acerca dos seus conhecimentos, valores ou convicções, é muito utilizado em investigação educacional. Para ser devidamente validado e de modo a que os dados obtidos através do mesmo sejam fiáveis, é essencial que a elaboração do questionário seja rigorosa e obedeça a normas de substância e características técnicas das questões apresentadas.
Este instrumento é de simples análise e permite a recolha de informação de uma forma rápida, barata e sem grande estorvo para o respondente que o pode preencher quando melhor lhe convier. Por outro lado, a sua concepção é difícil, não podendo ser aplicado a toda a população, excluindo, assim, à partida, pessoas analfabetas e crianças; está impregnado de incógnita relativamente à sua contextualização, e nem todas as pessoas respondem integralmente.
De qualquer forma, o questionário é um instrumento de recolha de dados muito útil, sempre que bem construído, pois «É muito fácil elaborar um questionário mas não é fácil elaborar um bom questionário» (Hill e Hill, 2000: 83).



BIBLIOGRAFIA e SITEGRAFIA


. Afonso, N. (2005). Investigação Naturalista em Educação. Porto: Edições Asa.
. Costa, Maria Emília e Vale, Dulce (1998). A Violência nas Escolas. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional.
. Hill, M.M. e Hill, A. (2000). Investigação por Questionário. Lisboa: Edições Sílabo.
. Veiga, Feliciano H. (1995). Transgressão e Autoconceito dos Jovens na Escola. Lisboa: Fim de Século.
. http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/ichagas/mi2/QuestionarioT2.pdf (consultado em 17-4-2008)
. Ghiglione. R., Matalon. B. (2005). O Inquérito – Teoria e Prática. Oeiras: Celta Editora.
. Carmo. H., Ferreira. Manuela M. (1998). Metodologia da Investigação – Guia para a Auto – Aprendizagem. Lisboa: Universidade Aberta.
. Bodgan. R., Biklen. S.(1994). Investigação Qualitativa em Educação – Uma Introdução À Teoria E Aos Métodos. Porto: Porto Editora.
. Boudon. R., Besnard. Ph. (1999). Dicionário Temático Larousse: Sociologia. Lisboa: Círculo de Leitores.

[1] Como foi o caso da tese em análise, em que a investigadora sentiu a necessidade de elaborar entrevistas para melhor compreender o fenómeno que se propunha estudar.

Questionário

Conceito

O questionário é geralmente confundido com as técnicas de entrevista, teste, formulário, inquérito e escala. De uma forma mais técnica, podemos definir o questionário como uma técnica de investigação composta por um número, mais ou menos elevado, de questões apresentadas por escrito a pessoas que têm por objectivo propiciar determinado conhecimento ao pesquisador/investigador.
Este técnica distingue-se da entrevista pois, nesta última, as perguntas e respostas são feitas de forma oral. Diferencia-se do formulário pois, este último, pode-se spresentar como qualquer impresso composto por campos próprios para a anotação de dados, não importando por que são preenchidos os dados. Já o teste, embora possa ser efectuado por intermédio do questionário, tem por objectivo incentivar determinadas reacções através de perguntas. Diferencia-se também dos inquéritos, pois estes tratam de reunir testemunhos de pessoas sobre determinados assuntos.

Vantagens dos questionários

• Possibilita atingir grande número de pessoas de diversas localizações geográficas com baixo custo;
• Garante o anonimato das respostas;
• Permite que as pessoas respondam no momento que lhes pareça mais apropriado;
• Não expõe os investigados à influência do investigador.

Desvantagens dos questionários

• Exclui pessoas analfabetas;
• Impede o auxílio ao investigado quando este não entende determinada pergunta;
• Impede o conhecimento das circunstâncias em que o questionário foi respondido;
• Não oferece garantias de que a maioria das pessoas o devolvam completamente preenchido;
• Envolve geralmente um número pequeno de perguntas;
• Proporciona resultados bastante críticos em relação à objectividade.

Construção de um questionário

A construção do questionário terá grande influência nos resultados a obter, pelo que são importantes alguns cuidados na sua construção, nomeadamente, quanto: à forma das perguntas que podem ser classificadas como abertas (o interrogado responde com palavras suas e, por isso, tornam-se difíceis de categorizar e analisar), fechadas (englobam todas as respostas possíveis, sendo mais fáceis de categorizar) e duplas (com características mistas dos dois tipos anteriores); ao conteúdo das perguntas que podem ser classificadas enquanto perguntas sobre factos (referem-se a dados concretos e fáceis de precisar), perguntas sobre crenças (referem-se às experiências subjectivas das pessoas, ou seja, aquilo que elas acreditam que sejam factos), perguntas sobre sentimentos (referentes às reacções emocionais das pessoas diante de determinados factos, fenómenos, instituições ou outras pessoas), perguntas sobre padrões de acção (referem-se genericamente aos padrões éticos relativos ao que deve ser feito, podendo envolver também padrões práticos de comportamento), perguntas dirigidas a comportamentos presentes ou passados e, por último, perguntas relativas a razões conscientes de crenças, sentimentos, orientações ou comportamentos, para descobrir o porquê consciente de determinado comportamento ou facto.
Relativamente à escolha das perguntas deve obedecer-se a algumas regras:
• Incluir apenas perguntas relacionadas com o problema pesquisado;
• Não incluir perguntas cujas respostas podem ser obtidas por meios mais precisos;
• Considerar as implicações das perguntas sobre os procedimentos de categorização e análise;
• Incluir perguntas que podem ser respondidas sem grandes dificuldades;
• Evitar perguntas que penetrem na intimidade das pessoas.
É necessário um cuidado especial na elaboração das perguntas. A seguir apresentamos algumas dicas sobre os cuidados a ter na formulação das perguntas:
• Formuladas de maneira clara, concreta e precisa;
• Considerar o sistema de referência e de informação do interrogado;
• A pergunta deve possibilitar uma única interpretação;
• A pergunta não deve sugerir respostas;
• As perguntas devem tratar de uma única ideia.

Outro dos cuidados a ter, prende-se com a definição do número adequado de perguntas, tendo em conta a necessidade de considerar o interesse dos respondentes pelo tema pesquisado. Geralmente, alguns estudiosos sugerem como máximo o número de 30 perguntas. Na elaboração da ordem das perguntas, no questionário, deve-se evitar que a ordem das perguntas possa sugerir um contágio de respostas, ou seja, evitar que a resposta da pergunta anterior possa influir na resposta da pergunta posterior. Pese embora esse facto, é importante também evitar a mudança brusca de tema nas perguntas.
Existem mecanismos de defesa social que os indivíduos utilizam com o propósito de se protegerem quando se sentem ameaçados e que podem influir no momento de responder ao questionário. Entre eles encontram-se os seguintes tipos de defesas:
- defesa de fachada - quando o respondente pensa estar a correr o risco de ser julgado, reage oferecendo respostas defensivas, estereotipadas ou socialmente desejáveis, escondendo as suas percepções reais. Para reduzir este efeito, recomenda-se iniciar o questionário com perguntas de baixo risco defensivo;
- defesa contra pergunta personalizada - perguntas que iniciam com "Na sua opinião..." ou "O que você pensa a respeito de ..." ou outras semelhantes podem causar respostas de fuga. Evita-se isto iniciando o questionário com outro tipo de perguntas e utilizando maneiras indirectas para tratar de termos delicados;
- deformação conservadora – utilizam-se respostas conservadoras, resistentes à mudança. Previne-se essa deformidade ou defesa, moderando o tom das perguntas;
- efeito das palavras estereotipadas – que ocorre quando usamos palavras como nazismo, homossexual e outras que provocam reacções diversas nas pessoas. Prefere-se que não sejam utilizadas;
- influência de personalidades de destaque – ocorre quando utilizamos nomes de pessoas de destaque, facto que pode causar anomalias nas respostas como reacção a esses nomes. Previne-se não utilizar referência a pessoas que possam causar antipatia, desprezo ou outra reacção.
Por último, quanto à estrutura do questionário, podemos inferir a seguinte forma: instruções de preenchimento; introdução ao questionário e perguntas.

Obtido e adaptado de "http://pt.wikipedia.org/wiki/Question%C3%A1rio"

Tema 2 /1.ª Fase- O Processo de recolha de dados - Questionário

Breve contextualização fornecida pelas docentes Alda Pereira e Luísa Aires relativamente ao processo de recolha de dados e ao questionário:

Os dados em investigação educacional

Os dados em investigação educacional podem provir de fontes muito diversas, desde documentos institucionais ou pessoais, a anotações feitas pelo investigador, decorrentes de observação em contextos naturalistas, passando pela aplicação de testes, questionários ou entrevistas aos sujeitos informantes, ou ainda pela utilização de artefactos produzidos em contextos não investigativos.
Nem sempre a recolha de dados exige a elaboração de instrumentos específicos. Contudo, o investigador encontra-se frequentemente na necessidade de ter de construir instrumentos próprios para obter os dados que permitem responder às suas questões de investigação. É o caso de testes, questionários, guiões de entrevistas ou grelhas de observação de comportamentos não verbais(1).

Questionários
Os questionários são instrumentos para recolha de dados, muito usados em investigações quantitativas, nomeadamente em estudos de opinião. São também usados em estudos mistos onde se utilizam vários métodos complementares. São constituídos por um conjunto de itens através dos quais se procura inventariar os atributos de uma dada população ou, até, analisar relações entre atributos dessa mesma população. Exigem um planeamento rigoroso sobre a informação a obter, sobre como proceder para a obter e como a analisar posteriormente.



Nota (1).
Note-se que um investigador, de acordo com os seus objectivos, pode socorrer-se de questionários e testes já validados para os mesmos objectivos, em contextos próximos, adaptando-os se necessário.

Tema 2 - O Processo de recolha de dados - Questionário

Lançamento da Actividade 2
A actividade 2 centrava-se sobre a utilização do questionário no processo de investigação. A primeira parte foi realizada em equipa, entre os dias 14 e 20 de Abril.
Nesse trabalho de equipa era importante que cada equipa procurasse:
. Reflectir sobre a relação entre a utilização de um questionário e os objectivos de uma investigação.
. Analisar vantagens e desvantagens da utilização do questionário como técnica de recolha de dados.
. Reflectir sobre os passos determinantes e sobre os cuidados a ter em conta na construção de um questionário com qualidade.
Sequência de tarefas:
(1) Explorar a bibliografia sobre a utilização do questionário em investigação e os cuidados a ter na construção de um questionário.
(2) Analisar a dissertação Setúbal, as TIC e o ensino de Inglês: atitudes dos professores, de Conceição Brito, no que respeita à utilização do questionário por esta investigadora:
. A autora apresenta claramente os objectivos de investigação que presidiram à elaboração do questionário?
. Na dissertação apresentada há indicação dos passos que estiveram subjacentes à construção do questionário?
. A amostra é claramente identificada?
. É indicado o método usado na definição da amostra?
. O questionário usado foi objecto de validação prévia?
. Na explicitação da metodologia usada há indicações sobre o modo de tratamento dos dados obtidos com a aplicação do questionário?
(3) Elaborar em conjunto um esquema gráfico exemplificativo do planeamento de um questionário que possa ser usado como uma ferramenta heurística auxiliar de um investigador.
(4) Disponibilizar o esquema construído no fórum Recolha de dados I, no dia 20 de Abril.

Reflexão sobre o Tema 1 - O Processo de Investigação


Neste primeiro tema, abordado no âmbito da Unidade Curricular de Investigação Educacional, do Curso de Mestrado, em Supervisão Pedagógica (2007/2009), pela Universidade Aberta, era proposto que, durante o período compreendido entre 11 de Março e 13 de Abril de 2208, nos focássemos no Processo de Investigação.
Com essa finalidade, orientando-nos através de alguns recursos e bibliografia fornecidos, era-nos proposto analisar os paradigmas de investigação em educação e os métodos de investigação que lhes são adjacentes, bem como as etapas do próprio processo de investigação.
Nessa perspectiva, definiam-se como objectivos de aprendizagem: ser capaz de caracterizar as diferentes fases da investigação; reflectir sobre as competências exigidas ao investigador nos diferentes momentos da investigação e, sobretudo, reflectir sobre a interligação das diferentes etapas do processo de investigação.
Partiu-se para a realização de pesquisas, leituras e consequente estudo, com a sensação óbvia de quase total desconhecimento da temática em causa, reflexo da falta de preparação científica nesta área. Na verdade, a abordagem aos paradigmas da investigação constitui-se como autêntica novidade nos nossos conhecimentos. Relativamente aos modelos de investigação pode-se afirmar que já não constituíam surpresa, tendo em conta a utilização que, embora reduzida, vai sendo constante na prática profissional e na vida. Não era certamente a primeira vez que lia artigos ou livros sobre os métodos quantitativos ou qualitativos, pese embora a “formação humanística” obtida. Quanto às fases e às etapas do processo de investigação, refira-se o imenso gozo proporcionado, quer pelo seu estudo, quer pelo trabalho prático que nos havia sido proposto. Tornou-se, nesta medida, muito estimulante e enriquecedor o trabalho realizado em grupo, como forma de construção do saber. Dos diferentes trabalhos de grupo apresentados ressalta a ideia de alguma conformidade na edificação das etapas de um Projecto de Investigação, mesmo tendo presentes algumas variâncias relativas à forma de apresentação.
Assim, afirma-se a abordagem a esta temática como muito interessante e motivante em termos de aprendizagem, revelando-se as bases científicas e o tipo de competências necessárias à prossecução deste tipo de curso. O aprendido tornar-se-á muito útil futuramente…
No tocante à participação nos fóruns, manifesta-se alguma falta de atenção no que diz respeito à abertura dos fóruns e à participação tardia na maior parte das discussões. Tal facto fica, de certa forma, associado à habituação criada no primeiro semestre, período durante o qual a plataforma nos disponibilizou avisos de abertura na caixa postal. Refira-se também que algum receio presidiu a essa participação mais reduzida em alguns dos fóruns criados, suscitada pela falta de bases científicas sólidas que permitissem esgrimir argumentos que, definitivamente, não estavam ainda consolidados. No entanto, a atitude de runner, algumas vezes assumida, encerra sempre uma aprendizagem significativa. Uma das interacções que mais me absorveu e permitiu desenvolver conhecimento ocorreu no fórum de metodologia da discussão, no esgrimir de argumentos relativamente à possível existência de um “paradigma mix”, assumido essencialmente, e muito bem, pelos colegas Mário e Odília.

Características do Investigador Qualitativo

1 - É paciente, sabe ganhar a confiança daqueles que se propõe estudar/investigar;
2 - É conhecedor dos vários métodos de investigação social;
3 - É meticuloso com a documentação (compila e trata dados diários);
4 - É conhecedor do tema que se propõe a estudar (sendo capaz de detectar
pistas);
5 - É versado em teoria social (capaz de detectar perspectivas teóricas úteis ao
seu estudo);
6 - É, ao mesmo tempo, capaz de trabalhar indutivamente;
7 - Tem confiança nas suas interpretações;
8 - Verifica e contrapõe, constantemente, a sua informação;
9 - Esforça-se no trabalho intelectual de dar sentido aos seus dados;
10 - Não descansa até tornar público (publicar) o seu estudo.


In Profª. Rosalina Carvalho da Silva: A Falsa Dicotomia Qualitativo -Quantitativo: Paradigmas que Informam nossas Práticas de Pesquisas pp 159-174 (minuta do Capítulo do Livro: Romanelli, G. ; Biasoli-Alves, Z.M.M. (1998) Diálogos Metodológicos sobre Prática de Pesquisa- Programa de Pós-Graduação em Psicologia da FFCLRP USP / CAPES ; R. Preto: Editora Legis-Summa) baseado em Morse (1994) e Valles (1997)

Síntese da análise da Dissertação: “As TIC no Jardim de Infância: contributos do Blogue para a Emergência da Leitura e da Escrita” - Trabalho de Grupo

Grupo constituído por Bruno Miranda, Carla Alves, Henriqueta Costa, Odília Leal e Teotónio Cavaco
Partindo para a análise da dissertação de Mestrado intitulada “As TIC no Jardim de Infância: contributos do Blogue para a Emergência da Leitura e da Escrita”, de Ádila Ferreira Lopes, foi possível identificar as fases do processo de investigação utilizadas. A autora dá – nos a conhecer a caracterização geral do estudo, formulando o problema que se propõe tratar de forma muito sucinta: a demonstração da importância da criação do blogue no que concerne a emergência da leitura e da escrita em contexto pré – escolar.
Este estudo apresenta como objectivos: a análise da contribuição do blogue para a emergência da leitura e da escrita; a tentativa de compreensão do modo como se processa a emergência da leitura e da escrita através dos suportes informáticos; a reflexão sobre a contribuição dos projectos integradores e promotores da leitura e escrita, em suporte digital; a compreensão da forma segundo a qual o blogue influenciará o processo da aprendizagem da leitura e da escrita; a “formulação” de respostas para as dúvidas dos educadores de infância quanto ao uso das tecnologias de informação e comunicação no jardim – de – infância. No fundo, o objectivo central deste estudo será a demonstração da importância do blogue, em contexto educativo, como ferramenta promotora da literacia. Nessa perspectiva afigura-se uma boa adequação entre os objectivos delineados e o problema formulado. Embora se constate a correcta delimitação do estudo, paira no ar, todavia, a dúvida sobre o facto de o estudo ter obedecido “rigorosamente” aos “critérios” implícitos numa investigação. Esta questão surge em virtude de não se encontrar, objectivamente no estudo, um grupo de “perguntas – chave”, para além da própria definição do problema, que procurem ir ao encontro das respostas inerentes ao problema formulado…
À medida que a autora vai descrevendo todo o processo de investigação, recorrendo ao paradigma qualitativo expresso no estudo de caso, o próprio blogue e o modo como as crianças vão interagindo é, no entanto, possível identificar conclusões que acabam por reflectir as suas “deduções” relativamente aos processos observados.
Como a própria autora do estudo refere “ (…) interessa – nos mais o processo de aprendizagem e não tanto qualificar resultados (…), os investigadores qualitativos interessam – se mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos”[1].
A autora, ao optar pela criação de um blogue em contexto de jardim-de-infância, intuiu que esta ferramenta (utilizada em vários contextos sociais, nomeadamente na educação, de utilização intuitiva e muito flexível, não exigindo portanto grandes competências tecnológicas para a sua criação e manutenção) pode, como refere Barujel (2005), “promover a leitura e a escrita, contribuindo para a aquisição de competências de comunicação”.
Podemos completar esta informação dizendo que este estudo vai, ainda, “de encontro às ideias dos autores que defendem a familiarização da criança em idade pré – escolar com o computador (…) pensamos que ao integrar o blogue nas actividades curriculares, estamos a fomentar o uso de outras ferramentas como seja a utilização do Word, do e – mail, do programa Paint, navegação na Internet em pesquisas organizadas, exploração de sites onde destacamos as histórias interactivas para a infância” (p. 7).
Existe, ao longo de todo o trabalho, uma preocupação da autora relativamente à necessidade do “contacto precoce” com as TIC por parte das crianças nesta faixa – etária. A autora chega mesmo a afirmar que:
“(…) através das ferramentas digitais” podemos desenvolver “consistentes aquisições de práticas de autonomia e de espírito critico”, na medida em que “o carácter dinâmico das tecnologias favorece uma observação mais selectiva e uma atitude mais critica (…) “ (resumo – IV).
Sobre a planificação da investigação é perceptível a tentativa da autora em "compreender os processos de integração das TIC no jardim-de-infância", fazendo ainda uma "reflexão aprofundada sobre essa realidade e as suas mutações ao longo desta experiência" (p. 49).
Ao referir o seu interesse pelo "processo de aprendizagem e não tanto quantificar resultados"[2] - investigação qualitativa – podemos aferir que a autora:identifica a problemática a estudar – as TIC no jardim-de-infância: contributos do blogue para a emergência da leitura e escrita; encontra um contexto – Jardim-de-Infância de Rio Covo St.ª Eulália; define um objecto de estudo – Sala 1- e adopta um paradigma[3]; apresenta a metodologia aplicada: "a recolha de dados foi feita no ambiente natural – sala – sendo a Educadora/investigadora uma observadora participante. A sua posição na investigação
“(…) é a de quem assume um papel activo, acompanhando as crianças em contexto de sala de actividades. Aobservação participante no contexto natural de acção, consubstanciadano diário de pesquisa, constituiu a principal forma de recolha de dados, aque se juntam informações provenientes de outras fontes, permitindo assim a realização de processos que se aproximam da triangulação. Adoptámos,pois, outras técnicas de recolha de dados que se afiguraram relevantes,entre elas os registos diários do trabalho das crianças, os registos de vídeo, e as entrevistas às crianças a partir das quais descobrimos a sua perspectiva sobre as experiências de aprendizagem que realizaram." (p. 51).
Ainda em relação à planificação é possível constatar outras condicionantes do processo, nomeadamente: selecção de crianças a estudar, segundo faixa etária bem definida; realização de calendarização, com explicitação de dois momentos definidos (construção da ferramenta blogue – Outubro 2006; trabalho de campo no Jardim de Infância - Dezembro a Maio de 2007).
Indagando sobre os elementos referenciados sobre o estudo empírico, entendem-se referências quanto aos instrumentos de recolha de dados, realizados pela autora ao longo do capítulo IV, nomeadamente: observação participativa (com elaboração de um diário de pesquisa); realização de entrevistas informais com as crianças; registo de entradas e comentários no blogue; realização de notas de campo.
Quanto aos procedimentos de análise de dados permitimo-nos inferir sobre a realização de uma análise quantitativa e qualitativa das intervenções das crianças no blogue; a transposição de realidades apreendidas no blogue para a sala de aula; a participação das crianças em actividades com novos materiais tecnológicos. Esta análise está subjacente nas conclusões retiradas no capítulo VI. Não há, contudo, uma especificação dos procedimentos adoptados.
É também possível identificar as conclusões da investigação. De facto, o capítulo 6 da Tese é todo ele dedicado à análise e apresentação dos dados, ao que se segue a conclusão. No entanto, ao longo dos capítulos anteriores foi possível identificar conclusões, sobretudo à medida que a autora ia descrevendo todo o processo de investigação, o próprio blogue e o modo como as crianças interagiram. Assim, podemos retirar como conclusões as seguintes constatações:
O blogue Da Janela do Meu Jardim, para além de permitir o carácter lúdico (aspecto muito importante sobretudo neste nível etário), funcionou como espaço de colaboração, cooperação e interactividade, o que potenciou a emergência de competências de literacia e contribuiu para o desenvolvimento global daqueles alunos, tanto em termos cognitivos como psicológicos e sócio-afectivos. Convém lembrar, no entanto que, desde o início, a investigadora teve consciência de que só por si, o uso das TIC não alteraria nada, caso não houvesse um plano cuidado no sentido de criar ambientes propícios. Essa preocupação nota-se ao longo da investigação. A autora chega a citar estudiosos que alertam até para o perigo da introdução demasiado precoce do uso do computador poder atrofiar a imaginação. É por isso também que há o cuidado de usar os anteriores meios de motivação para a leitura e escrita, sendo o blogue apenas mais um e funcionando como mediador e potenciador dos outros.
Outra das conclusões aponta no sentido do estabelecimento de redes interactivas, assumindo as crianças um protagonismo difícil de obter com métodos tradicionais. As crianças envolvidas no estudo revelaram um à-vontade e uma agilidade no manuseamento do computador, o que comprova a designação de “verdadeiros nativos digitais” tão querida a certos autores.
Ficou também bem claro que o objectivo de desenvolver comportamentos emergentes de leitura e escrita e não propriamente ensinar a ler e escrever, foi totalmente alcançado. Esta competência deve ser desenvolvida antes da entrada da criança na escolaridade obrigatória.
Existiu, porém, um facto que nos levou a questionar se as conclusões não teriam sido contaminadas pelo facto de investigadora ter o estatuto de participante. Facto que nos parece de somenos importância, tendo em conta o inegável cuidado como o estudo se desenrolou e as marcas positivas que terá deixado junto daquelas crianças. Se se pretendesse, a partir daqui ditar receitas plagiadas deste projecto e aplicadas mecanicamente noutros contextos, aí sim, tínhamos um problema, mas em investigação qualitativa, como sabemos, o objectivo não é esse. Obviamente, trabalhos como este servem apenas de modelo, requerendo-se a adaptabilidade aos processos de desenvolvimento curricular (inserção nos PCT e Planos de Actividades da turma/escola de aplicação).
Como a autora afirma, não se trata de chegar a leis ou explicações causais, mas tão só de comprovar a tese de que a construção de um blogue num jardim infantil pode ser «uma estratégia pedagógica, um instrumento de formação cívico-pessoal e de desenvolvimento da autonomia e de formação pessoal e social» (p. 64).
Relativamente à escolha do paradigma de investigação, a autora opta claramente pelo Paradigma Qualitativo e está bem consciente das suas potencialidades e virtualidades, sendo o Capítulo V dedicado, precisamente, a esses esclarecimentos. O paradigma qualitativo é o mais adequado a este tipo de investigações, pois o objectivo não é chegar a conclusões generalizáveis, mas apenas estudar, acompanhar, apoiar o processo de aprendizagem. Numa óptica construtivista, este paradigma é o ideal para permitir alcançar estes objectivos.
A autora utiliza a estratégia do Estudo de Caso, citando autores de referência como Cohen e Manion, Yin, Bogdan e BiKlen, Gómez, Flores e Jiménez. Esta técnica permite um exame detalhado, compreensivo e sistemático do caso em questão (concretamente, a importância das TIC e, mais especificamente, do blogue, para o desenvolvimento de competências de literacia), assim como uma observação detalhada de um contexto, organização ou acontecimento ou indivíduo, proporcionando uma análise intensiva do fenómeno em estudo, nos seus múltiplos aspectos e, geralmente, permite que se prolongue no tempo. Neste caso, prolongou-se por apenas um ano lectivo, o que leva também a investigadora a colocar a questão temporal como um dos constrangimentos encontrados, pois, como sabemos, nestes assuntos, a observação num tempo médio e longo permite obter dados mais consistentes. Por exemplo, observar aquele grupo/turma durante todo o seu percurso escolar, pelo menos no ensino básico, seria o ideal. Todavia, a ciência faz-se colectivamente e nada impede que alguém continue essa linha investigadora.
A qualidade de uma investigação também se mede pelas novas problemáticas que alimenta. Daí nos parecer importante que o acompanhamento a longo prazo permitiria perceber quão decisiva se revelou ou perpetuou a intervenção.
Ainda é apontada a técnica do Observador Participante, a qual faz parte do método escolhido, embora houvesse alternativas, como por exemplo, a Entrevista em Profundidade mas que, dado o nível etário, seria pouco adequada. Esta técnica utilizada foi consubstanciada no Diário de Pesquisa, principal forma usada pela investigadora para recolher os dados. Ainda que a autora tenha evidenciado preocupação pelos constrangimentos associados, julgamos os aspectos positivos alcançados com este estudo, capazes de superar qualquer pequena existência de contaminação que possa ter existido.
Na verdade, “a integração e apropriação das tecnologias por parte das crianças é um caminho sem retorno”. Não podemos ignorar que “os “nativos digitais” (Prensky, 2007) convivem de uma forma perfeitamente natural com os artefactos tecnológicos – verdadeiras extensões do seu cérebro, servindo para comunicar, pesquisar, partilhar, criar, socializar e, claro, aprender” (p. 2).
Os investigadores qualitativos[4] “tentam analisar os dados em toda a sua riqueza, respeitando, tanto quanto o possível, a forma como estes foram registados ou transcritos” e, como tal, tendem a analisar os seus dados de forma indutiva. Não recolhem dados ou provas com o objectivo de confirmar hipóteses construídas previamente; ao invés disso, as abstracções são construídas à medida que os dados particulares que foram recolhidos se vão agrupando.

[1] In Faria. A., As TIC no Jardim – de – Infância: Contributos do Blogue para a Emergência da Leitura e da Escrita, Universidade do Minho (Instituto de Estudos da Criança), 2007, 49.

[2] Bogdan e Biklen (1994)

[3] "mais do que quantificar ou generalizar, interessa-nos compreender um processo e, para esse efeito tivemos que observar e questionar os sujeitos – crianças – de forma a compreendermos o que experienciam e, sobretudo, como praticam as suas experiências." (p. 51)

[4] “Na investigação qualitativa a fonte directa de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal”, in Bogdan e Biklen (1994, 47), Investigação Qualitativa em Educação, Porto, Porto Editora

Bem Vindo(a)

Este espaço, aberto a todos os colegas e Professores do Mestrado em Supervisão Pedagógica 2007/2009, da Universidade Aberta, pretende consignar temas e reflexões sobre vivências, experiências e novas aprendizagens, no âmbito da unidade curricular de Investigação Educacional.