quinta-feira, 26 de junho de 2008

Planeamento de um Questionário - Trabalho de Grupo


O Grupo constituído pelos mestrandos Bruno Miranda, Carla Alves, Henriqueta Costa, Odília Leal e Teotónio Cavaco apresentou o seguinte Planeamento de Realização de um Questionário.
Introdução

DEFINIÇÃO DO CONCEITO

1. Questionário:

. Série de questões que se colocam a um informador, que podem envolver as suas opiniões, as suas representações, as suas crenças ou várias informações factuais sobre ele próprio ou o seu meio.
. Instrumento de base de todo o inquérito extensivo. Nele podemos incluir questões abertas e / ou questões fechadas: as primeiras caracterizam – se pelas respostas totalmente livres, enquanto as segundas se caracterizam pela apresentação de lista de respostas (possíveis).
. As respostas às questões abertas são, geralmente, mais ricas, mas torna – se necessária a interpretação e a “codificação” das mesmas (através da análise de conteúdo).
. A elaboração de um questionário exige uma sólida formação técnica e uma experiência do inquérito sob todas as suas formas.
. Como todos os instrumentos de medida, o questionário tem os seus limites, mas é, sem dúvida, uma ferramenta insubstituível (para estudar as diferenças de opinião e acompanhar a sua evolução no tempo ou, ainda, para descrever a estrutura e as condições de vida de uma população).
. É um instrumento muito utilizado em investigação educacional, podendo ser complementado com outro (s)[1].


2. As grandes linhas (de orientação) de um questionário:

. Deve revestir–se obrigatoriamente de um rigor estandardizado, quer ao nível das questões colocadas, quer, ainda, ao nível da sua ordem.
. Deve permitir / facultar a comparabilidade das respostas de todos os entrevistados – tornando–se, desde logo, necessário formular as questões (a todos os entrevistados) da mesma forma, isto é, sem que se proceda a alterações, adaptações e / ou explicações suplementares resultantes da iniciativa do entrevistador.
. Deve incluir um grupo de questões perfeitamente claras, que não ofereçam qualquer margem para dúvidas ou susceptíveis de qualquer tipo de ambiguidade.
. Deve incluir questões que, na sua essência, não se prestem à sugestão de respostas (em particular) e à expressão de expectativas.
. Deve ser “criterioso” na ordem que atribui às questões a formular: deve parecer uma “simples” troca de palavras e surgir de forma tão “natural” quanto possível; deve procurar o “encadear” das questões evitando–se as repetições e a inserção de questões “despropositadas”.
. Deve procurar abarcar uma certa variedade no tipo de questões formuladas para “quebrar” a monotonia (principalmente se estivermos na presença de um questionário longo).
. Deve ter em conta o tempo que será destinado à sua realização, não devendo ultrapassar uma hora; se estivermos na presença de um questionário constituído, na sua generalidade, por perguntas fechadas, este não deve ultrapassar os 45 minutos (Ghiglione e Matalon).


3. A apresentação do questionário deve contemplar os seguintes itens:

. A apresentação do investigador (que deve conter os elementos indispensáveis para o credibilizar perante os inquiridos).
. A apresentação do tema (que deve ser feita de forma clara e simples, dando a conhecer a importância do papel dos inquiridos no âmbito da investigação em curso).
. As instruções (que devem ser, também elas, precisas, claras e curtas, evitando–se, desde logo, as que possam trazer alguma ambiguidade ou que se revelem demasiado complicadas).
. O questionário, quando enviado por correio, deve ser acompanhado de um envelope selado ou com resposta paga. A qualidade e a cor do papel devem ser adequadas ao público–alvo.
. A sua disposição gráfica deve ser clara e adequada ao público a que se destina - a mancha gráfica deve ser aberta e visualmente atractiva.
. O formulário deve ser revisto (revisão gráfica) tendo em vista a correcção de (possíveis) gralhas ortográficas e / ou erros sintácticos – factores estes que conduziriam, de imediato, a uma perda de credibilidade por parte dos inquiridos.
. O número de folhas deve ser reduzido ao mínimo, de forma a evitar reacções “negativas” por parte dos inquiridos.
Muito importante:
. É necessária a realização de um pré – teste (antes de se proceder ao questionário, efectivo) para que possamos (investigadores) averiguar as condições em que o questionário será aplicado, a sua qualidade gráfica e a adequação da carta e das instruções que o acompanham.
. Proceder, após a redacção do questionário, ao seu “ensaio” para verificarmos se: * as questões são compreendidas da forma “inicialmente” prevista pelo investigador;
* há questões susceptíveis de poder influenciar as questões seguintes;
* a ordem das questões obedece a uma lógica compreensível pelos inquiridos;
* há motivos para fenómenos de fadiga, aborrecimento ou qualquer reacção menos positiva, susceptíveis de alterar o comportamento de resposta.. Proceder a antecipações, construindo quadros fictícios, de modo a evitar respostas impossíveis de interpretar ou, apenas interpretáveis se forem acompanhadas de perguntas suplementares. Este procedimento permite, também, detectar repetições desnecessárias.
. Determinar a aceitabilidade das perguntas, passando a uma “aplicação em pequena escala”, em condições idênticas às da “aplicação definitiva”, de forma a determinar as reacções ao questionário. Nesta fase devem ser registadas todas as dificuldades encontradas.
. Verificar a aplicabilidade e a relevância das respostas, através de um “teste piloto”, no qual se procede a um ensaio da aplicação do questionário, evitando–se, desta forma, incompreensões e erros de vocabulário e de formulação. O teste piloto permite, ainda, verificar se a introdução motiva os participantes e se as instruções e as perguntas estão claramente redigidas.


PRÉ – PLANEAMENTO

1. Questões Prévias à Elaboração do Questionário
(base do trabalho investigativo):
- Escolher o tema;
- Levantar problemas;
– Estabelecer a Hipótese Geral;
- Rever a literatura sobre a temática;
- Decidir o tipo de investigação (Réplica, Confirmação, Melhoria ou Extensão);
- Descrever e caracterizar o Universo-alvo;
- Definir a amostra do estudo, em função do Universo:
* casual (aleatória simples, sistemática, estratificada, por clusters, multi-etápica, multi-fásica)
* não casual (por conveniência, por quotas);
- Proceder a:
* autorizações superiores (Ministério, CE’s…);
* motivação;
* como se pretende proceder à recolha…

2 - Construção do Questionário:
- Realizar um estudo preliminar para averiguar questionários já realizados sobre a temática:
* Revisão;
* Teste de questionários existentes.

PLANEAMENTO DO QUESTIONÁRIO

3 - Elaboração de novo questionário
- Elaborar uma grelha de especificações (para comparação das questões do estudo com os tópicos do questionário);
- Listar todas as variáveis da investigação, incluindo as características dos casos;
- Especificar o número de perguntas para medir cada uma das variáveis;
- Elaborar uma versão inicial para cada pergunta;
- Reflectir cuidadosamente sobre:
* a natureza da primeira hipótese geral;
* as variáveis e perguntas iniciais com ela associadas
- Identificar que tipo de hipótese se tem:
* as que tratam de diferenças entre grupos de casos
* as que tratam de relações entre variáveis
- Decidir de quais as técnicas estatísticas adequadas para testar a hipótese, tendo em atenção os pressupostos destas técnicas, consoante o tipo de hipótese geral
- Decidir o tipo de escala de medida:
* nominal
* ordinal
* de intervalo
* de rácio
- Decidir o tipo de resposta desejável para cada pergunta associada com a hipótese geral:
a) Qualitativa - descrita por palavras pelo respondente;
b) Qualitativa - escolhida pelo respondente a partir de um conjunto de respostas alternativas fornecido pelo autor do questionário;
c) Quantitativa - apresentada em números pelo respondente;
d) Quantitativa - escolhida pelo respondente a partir de um conjunto de respostas alternativas fornecido pelo autor do questionário.
- Elaborar hipótese operacional, com base na informação dos passos anteriores;
- Considerar as perguntas iniciais (e os tipos de respostas) associadas com a primeira hipótese operacional e, caso necessário, «poli-las» de forma a chegar a versões finais que possam, eventualmente, ser incorporadas no questionário;
- Verificar se as versões finais das perguntas ainda estão adequadas para testar a hipótese operacional;
- Repetir os 7 passos anteriores para as outras hipóteses gerais;
- Elaborar as instruções associadas com as perguntas para informar o respondente acerca de como deve responder;
- Planear as secções do questionário:
* A primeira secção deve ser sempre para obter informação sobre as características dos casos (= respondentes: pessoas, famílias, instituições, sectores da indústria, países, regiões de um país, etc.) para os descrever e deve obedecer às seguintes regras:
a) A escolha das características deve prever que sejam estritamente relevantes (para evitar uma excessiva extensão do questionário, bem como o risco de falta de cooperação do respondente);
b) A escolha das características dos casos deve ter em consideração todas as hipóteses da investigação e os detalhes dos casos requeridos para descrever a amostra e replicar a investigação;
c) Se algumas características forem quantitativas, há duas alternativas:
. Ou se usa a resposta escrita em números (medida numa escala de rácio, portanto, exacta);
. Ou a escolha perante um conjunto de respostas alternativas (medida numa escala ordinal, portanto, mais flexível, mas menos exacta, logo, mais frágil).
- Rever o aspecto gráfico do questionário;
- Validar o questionário pela revisão, por um painel de especialistas, que deverá avaliar a substância das questões e as suas características técnicas.
- Aplicar o questionário, a título experimental, a uma amostra que não a do estudo.

Prós e Contras do Questionário
(Inquérito por questionário)

Prós:
. Sistematização;
. Maior simplicidade de análise;
. Maior rapidez na recolha e análise de dados: pode ser aplicado a um maior número de pessoas (oriundas de diversas localizações geográficas) e em menos tempo; a análise pode ser automatizada;
. Mais barato;
. Permite que as pessoas respondam no momento que lhes pareça mais adequado;
. Há menos possibilidade de enviesamento pelo inquiridor: não expõe os pesquisados à influência do pesquisador;
. Garante o anonimato das respostas: as questões embaraçosas não inibem o entrevistado.
Contras:
. Dificuldades de concepção;
. Envolve, geralmente, um número pequeno de perguntas;
. Não é aplicável a toda a população: exclui, por exemplo, a participação de pessoas analfabetas;
. Impossibilidade de acrescentar dados suplementares;
. Impossibilidade de ajudar no caso de haver dúvidas por parte do inquirido;
. Impede o conhecimento das circunstâncias em que o questionário foi respondido;
. Não oferece garantia de que a maioria das pessoas o devolvam preenchido de forma “completa” (todos os parâmetros);
. Elevada taxa de não respostas; *
. Proporciona resultados bastante críticos no que respeita a objectividade: maior superficialidade das respostas.


* Notas:
a) - De salientar que, no estudo em questão, é referido que “apesar do processo não ter sido fácil, consideramos que os resultados de respostas obtidas foram razoáveis, dada a persistência com que os professores foram relembrados do preenchimento, e muito especialmente graças ao empenhamento dos Conselhos Executivos e/ou delegados de grupo ou de departamento que constituíram âncoras fundamentais para o sucesso da metodologia” (tese em análise).
b) - Vários factores podem condicionar o volume de devoluções dos questionários, nomeadamente:
. A natureza da pesquisa – se esta se revestir de utilidade “prática” para o inquirido, a taxa de respostas tende a aumentar;
. O tipo de inquirido – os inquiridos que apresentam um maior nível de habilitações académicas geralmente são os que tendem a responder com mais frequência; por seu turno, os indivíduos que apresentam níveis de instrução baixos tendem a não responder;
. O sistema de perguntas – quanto mais simples for o sistema de perguntas (quanto ao nível de objectividade ou de clareza), maior será a probabilidade de aumentar a taxa das respostas;
. A clareza e acessibilidade das instruções – este item encontra–se, desde logo, inter-relacionado com o item anterior: quanto mais fáceis e claras forem as instruções de preenchimento, maior êxito se prevê no número de respostas; as instruções de teor complexo e muito extensas podem “desmotivar”, conduzindo à não – colaboração por parte dos inquiridos;
. As estratégias de reforço – o envio de cartas de anúncio do lançamento do inquérito, cartas de legitimação da utilidade social ou cientifica (feitas por entidades credíveis) ou, ainda, cartas enviadas aos não – respondentes oferecendo-lhes uma 2ª oportunidade …



CONCLUSÃO

O questionário é um instrumento de recolha de dados, através da realização de questões apresentadas por escrito, as quais deverão ser respondidas igualmente por escrito. Este instrumento, que tem como objectivo a recolha de informação detida pelos respondentes acerca dos seus conhecimentos, valores ou convicções, é muito utilizado em investigação educacional. Para ser devidamente validado e de modo a que os dados obtidos através do mesmo sejam fiáveis, é essencial que a elaboração do questionário seja rigorosa e obedeça a normas de substância e características técnicas das questões apresentadas.
Este instrumento é de simples análise e permite a recolha de informação de uma forma rápida, barata e sem grande estorvo para o respondente que o pode preencher quando melhor lhe convier. Por outro lado, a sua concepção é difícil, não podendo ser aplicado a toda a população, excluindo, assim, à partida, pessoas analfabetas e crianças; está impregnado de incógnita relativamente à sua contextualização, e nem todas as pessoas respondem integralmente.
De qualquer forma, o questionário é um instrumento de recolha de dados muito útil, sempre que bem construído, pois «É muito fácil elaborar um questionário mas não é fácil elaborar um bom questionário» (Hill e Hill, 2000: 83).



BIBLIOGRAFIA e SITEGRAFIA


. Afonso, N. (2005). Investigação Naturalista em Educação. Porto: Edições Asa.
. Costa, Maria Emília e Vale, Dulce (1998). A Violência nas Escolas. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional.
. Hill, M.M. e Hill, A. (2000). Investigação por Questionário. Lisboa: Edições Sílabo.
. Veiga, Feliciano H. (1995). Transgressão e Autoconceito dos Jovens na Escola. Lisboa: Fim de Século.
. http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/ichagas/mi2/QuestionarioT2.pdf (consultado em 17-4-2008)
. Ghiglione. R., Matalon. B. (2005). O Inquérito – Teoria e Prática. Oeiras: Celta Editora.
. Carmo. H., Ferreira. Manuela M. (1998). Metodologia da Investigação – Guia para a Auto – Aprendizagem. Lisboa: Universidade Aberta.
. Bodgan. R., Biklen. S.(1994). Investigação Qualitativa em Educação – Uma Introdução À Teoria E Aos Métodos. Porto: Porto Editora.
. Boudon. R., Besnard. Ph. (1999). Dicionário Temático Larousse: Sociologia. Lisboa: Círculo de Leitores.

[1] Como foi o caso da tese em análise, em que a investigadora sentiu a necessidade de elaborar entrevistas para melhor compreender o fenómeno que se propunha estudar.

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Bem Vindo(a)

Este espaço, aberto a todos os colegas e Professores do Mestrado em Supervisão Pedagógica 2007/2009, da Universidade Aberta, pretende consignar temas e reflexões sobre vivências, experiências e novas aprendizagens, no âmbito da unidade curricular de Investigação Educacional.