domingo, 22 de junho de 2008

Paradigmas da Investigação Educacional

Existem três paradigmas ao serviço da Investigação Educacional: o Paradigma Positivista, de carácter racionalista e cariz quantitativo; o Paradigma Interpretativo, de tendência naturalista e cariz qualitativo e o Paradigma Sociocrítico.
Saber qual deles serve melhor a investigação educacional não se afigura como tarefa fácil, muito embora a tendência dos dois últimos paradigmas sirva o corte com o empirismo lógico que serviu de postulado à investigação de pendor mais tradicionalista.
Podemos afirmar, então, que estamos perante uma ruptura para com o paradigma dominante, daí surgindo novos paradigmas que procuram ultrapassar as dificuldades encontradas, buscando a mudança. No entanto, o surgimento de novos paradigmas não implica a incompatibilidade entre paradigmas, muito pelo contrário. Diversos autores defendem, pelo contrário, a complementaridade, facto que não permite a determinação de um paradigma dominante nas ciências sociais. Khun refere, a propósito, a relatividade dos paradigmas científicos. Lakatos (citado em Coutinho, 2005) afirma que “os paradigmas nem sempre competem entre si, os antigos não morrem, na maior parte das vezes são “completados””.

O Paradigma Positivista fundamenta-se, tal como o próprio nome indica, no positivismo lógico e no empirismo. A natureza da realidade percepcionada é única, estática, fragmentada, tangível, convergente e simplificadora. O processo de investigação no paradigma positivista está livre de valores e, como tal, o investigador pode assumir uma posição neutra, de independência, na medida em que este se situa externamente à investigação e os sujeitos são encarados como meros objectos de investigação. As finalidades da investigação prendem-se com a explicação e o controlo, com a tentativa de generalização para além do tempo da investigação. Assim, as explicações são centradas na regularidade dos fenómenos, apuradas com base em situações ou causas já passadas ou presentes. Este paradigma que prossegue critérios de validade, de fidelidade e de objectividade, assenta na utilização de metodologias empírico-analíticas, com base dedutiva. Utilizam-se e privilegiam-se as técnicas quantitativas derivadas da utilização de questionários, medição por testes, observação sistemática e experimentação. Para a análise dos dados recolhidos são privilegiadas a estatística descritiva e inferencial, características do método quantitativo.
Apesar do esforço dos positivistas, muitos autores partilham a impossibilidade e incapacidade deste paradigma para resolver os problemas educativos.

Surge então o Paradigma Interpretativo ou qualitativo que “pretende substituir as noções científicas da explicação, previsão e controlo do paradigma positivista pelas compreensão, significado e acção” (Coutinho, 2005), penetrando no mundo pessoal dos sujeitos em determinado contexto social. Tem como bases o naturalismo e os processos qualitativos. A realidade é encarada como múltipla, intangível, divergente e holística, daí se procurar compreendê-la e interpretá-la (fundamentação da teoria interpretativa e da fenomenologia). No paradigma interpretativo os valores do investigador exercem influência no processo, tendo em conta que existe dependência derivada do inter-relacionamento sujeito/objecto e, como tal, existe risco de subjectividade. Este paradigma, tal como o paradigma sociocrítico, apresenta como objectivo a generalização das hipóteses de trabalho em contexto e tempo dado, através da utilização de explicações ideográficas, indutivas, qualitativas e centradas sobre as diferenças. São os valores dados e explícitos que influenciam a selecção do problema, da teoria, método e análise daí decorrente. Caracteriza-se, também, pelo relacionamento e influência recíproca entre a teoria e a prática e assenta em critérios de credibilidade, confirmação e transferibilidade.
O paradigma interpretativo utiliza uma metodologia humanista-interpretativa em que se baseiam os estudos de caso e a pesquisa etnográfica, empregando técnicas qualitativas, descritivas, nas quais o investigador, enquanto participante, se torna no principal instrumento de investigação. Daí decorre também o emprego de um tipo de análise de dados do tipo qualitativo, com a introdução da indução analítica e triangulação.

Por último, o Paradigma Sociocrítico que encontra a sua fundamentação e engloba tendências da Teoria Crítica de Habbermas, do neomarxismo, dos trabalhos de Freire, entre outros, opõe-se à tradição positivista e interpretativa que sustenta os paradigmas anteriores e tem como finalidades o emancipar, criticar e identificar potenciais de mudança. Na verdade, considera-se que o paradigma interpretativo embora tenha mudado as regras do jogo, não conseguiu modificar a natureza do mesmo.
Nessa perspectiva podemos afirmar que os princípios ideológicos em que assenta o paradigma sociocrítico têm como finalidade a transformação da estrutura das relações sociais. Os seus objectivos prendem-se com a análise das transformações sociais e a construção de respostas a determinados problemas que delas surgem. È com o seu aparecimento que se põe em causa a neutralidade da investigação educacional assumindo-se que esta possui um carácter emancipatório e transformador das organizações e processos educativos.
Perante esta abordagem, a ideologia surge como ligada ao factor cultural e social e a processos auto reflexivos, para produção do conhecimento científico, com o objectivo de modificar o mundo.
Podemos afirmar que a sua realidade é dinâmica, evolutiva, construída, divergente, partilhada, holística, histórica e interactiva e que existe uma interrelação entre sujeito/objecto, cuja relação é influenciada por um forte compromisso de mudança. No paradigma crítico a ideologia e os valores determinam qualquer tipo de conhecimento. Este modelo apresenta uma relação dialéctica entre a teoria e a prática, podendo afirmar-se que a prática é a teoria em acção. Na realidade, os indivíduos tornam-se agentes activos da construção e configuração da realidade e ao fazê-lo tornam-se, eles próprios, investigadores.
Quanto a critérios de validade, podemos induzir neste paradigma a busca da validade por consenso e o uso da intersubjectividade na análise de dados.
Usa uma metodologia mais orientada para a prática educativa e perspectiva a mudança e a tomada de decisões com base na investigação avaliativa e na Investigação-Acção, através de técnicas em que impera o estudo de casos.
Outra bibliografia e artigos consultados:
Coutinho, Clara Maria Gil Fernandes Pereira (2005), Percursos da Investigação em Tecnologia Educativa em Portugal: Uma abordagem Temática e metodológica a publicações cientificas (1985-2000), Braga, Universidade do Minho
https://woc.uc.pt/fpce/getFile.do?tipo=2&id=1850

Paradigma segundo Khun


Thomas Kuhn mudou por completo a noção que se tinha sobre o progresso científico. Se anteriormente, se pensava que a ciência progredia de forma contínua, por melhoramentos consecutivos, que iam sendo adicionados por sucessivos cientistas, Khun veio revolucionar ao defender que o progresso científico derivava de mecanismos de ruptura.
A ciência é entendida como normal, ao longo de determinado período de tempo, na medida em que todos a percepcionam de uma mesma forma. Quando essa visão começa a ser posta em causa, tal como os fundamentos que a ela presidem, então, dá-se a ruptura.
Khun chamava paradigmas a estas novas ideias de ver o mundo. Quando alguém descobre um paradigma distinto, sobre o qual é possível basear o desenvolvimento duma ciência, diz-se que a ciência é, durante esse período, uma Ciência Revolucionária.
Segundo Kuhn, uma ciência evolui por etapas que ora são de evolução normal, ora de ruptura revolucionária, sendo as rupturas revolucionárias as que mais contribuem para o progresso dessa ciência.
Thomas Kuhn descreve como ciências imaturas aquelas que ainda nem sequer têm paradigmas, e que, como tal, nem sequer podem ser consideradas ciências. Um investigador que pretenda fazer ciência na ausência de uma paradigma unificador depara com uma colecção arbitrária de conceitos não organizados, sem qualquer estrutura integradora capaz de lhes dar coerência e unidade, ou então com múltiplas propostas de estruturas integradoras que são inconciliáveis entre si.
Uma ciência que já estabeleceu os seus paradigmas é considerada uma ciência normal. Como se desenvolve no respeito do seu paradigma unificador, tem um desenvolvimento incremental que tende a limitar-se a resolver, mais ou menos rotineiramente, os problemas que se vão colocando. Como dizia Kuhn, a este nível, as ciências pouco mais fazem do que resolver “puzzles”.
De acordo com Kuhn, os grandes progressos de uma ciência só acontecem quando os seus próprios paradigmas são desafiados e substituídos por novos paradigmas. A essas ciências, que rompem com os paradigmas que as regiam, chamou ciências revolucionárias.
COmo já vimos, o conceito de paradigma tornou-se muito popular a partir das propostas de Kuhn e hoje significa, mesmo na linguagem corrente, uma maneira de ver a realidade. Trata-se de um conceito particularmente importante para compreender, não apenas a ciência, mas a própria vida em sociedade. De facto, muitos dos conflitos que hoje em dia se geram resultam de choques entre pessoas que vêm a realidade de maneiras antagónicas. Este facto é tão mais importante quanto acontece que, quando se vê a realidade de uma determinada maneira se tende a ser incapaz de a ver de outra, possivelmente mais correcta.
No essencial, o importante é ganharmos flexibilidade intelectual para sermos capazes de mudar de paradigma. Uma vez ganha essa flexibilidade, poderemos, então, analisar cuidadosamente os paradigmas em jogo e fazer opções muito mais apropriadas aos universos nos quais, em cada momento, nos situamos.
Adaptado de

O que são os Paradigmas?

Tendo como base a Wikipédia, Paradigma (derivado do termo grego Parádeigma) é a representação de um padrão a ser seguido. É um pressuposto filosófico, matriz, ou seja, uma teoria, um conhecimento que origina o estudo de um campo científico; uma realização científica com métodos e valores que são concebidos como modelo; uma referência inicial como base de modelo para estudos e pesquisas.
Kuhn, T. (1922 - 1996), designou como paradigmáticas as realizações científicas que geram modelos que, por período mais ou menos longo e de modo mais ou menos explícito, orientam o desenvolvimento posterior das pesquisas exclusivamente na busca da solução para os problemas por elas suscitados.
No seu livro “A estrutura das Revoluções Científicas” apresenta a concepção de que “um paradigma, é aquilo que os membros de uma comunidade partilham e, inversamente, uma comunidade científica consiste em homens que partilham um paradigma”, p. 219 e define “o estudo dos paradigmas como o que prepara basicamente o estudante para ser membro da comunidade científica na qual actuará mais tarde”, p. 31.
Hoisel, chama a atenção para o aspecto relativo da definição de paradigma, observando que enquanto uma constelação de pressupostos e crenças, escalas de valores, técnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade científica num determinado momento histórico, é simultaneamente um conjunto dos procedimentos consagrados, capazes de condenar e excluir indivíduos das suas comunidades de pares. Mostra-nos como este pode ser compreendido como um conjunto de vícios de pensamento e bloqueios lógico-metafísicos que obrigam os cientistas de uma determinada época a permanecer confinados ao âmbito do que definiram como seu universo de estudo e seu respectivo espectro de conclusões geralmente admitidas como plausíveis.
Na comunicação 3 de seu livro “Anais de um simpósio imaginário” Hoisel destaca ainda que uma outra consequência da adopção irrestrita de um paradigma é o estabelecimento de formas específicas de questionar a natureza, limitando e condicionando previamente as respostas, que esta nos fornecerá um alerta que já nos foi dado pelo físico Heisenberg quando mostrou que, nos experimentos científicos o que vemos não é a natureza em si, mas a natureza submetida ao nosso modo peculiar de interrogá-la.
Segundo Kuhn uma comunidade científica consiste em homens que partilham um paradigma e esta “...ao adquirir um paradigma, adquire igualmente um critério para a escolha de problemas que, enquanto o paradigma for aceite, poderemos considerar como dotados de uma solução possível”, p. 60.
Uma investigação atinente à comunidade científica “de uma determinada especialidade, num determinado momento, revela um conjunto de ilustrações recorrentes e quase padronizadas de diferentes teorias nas suas aplicações conceituais, instrumentais e na observação”, (p. 67). Tais ilustrações são “os paradigmas da comunidade, revelados nos seus manuais, conferências e exercícios de laboratórios”, (p. 68)
Ao longo da história pesquisas e observações são realizadas e muitas vezes, como se observa, não se adequam (produzem contradições) ao paradigma vigente e dão origem a um novo. O novo paradigma forma-se quando a comunidade científica renuncia simultaneamente à maioria dos livros e artigos que corporificam o antigo, deixando de considerá-los como objecto adequado ao escrutínio científico (p. 209).
Bibliografia
Kuhn Thomas Estrutura das revoluções científicas SP, Perspectiva, 1978
Szaz, Thomas S. A fabricação da loucura. RJ, Zahar, 1976.
Goffman Prisões manicômios e conventos. SP, Perspectiva, 1999
Malufe, José Roberto. A retórica da ciência, uma leitura de Goffman. SP, Educ, 1992
Angell, Márcia. A verdade sobre os laboratórios faramacêuticos - como somos enganados e o que podemos fazer à respeito. SP, Record, 2007
Landmann A ética médica sem mascara. RJ, Guanabara Dois, 1985
Hoisel Beto, Anais de um simpósio imaginário. SP Palas Atenas, 1999 http://www.simposio2008.hoisel.com.br/primeira.html ,Comunicação 3 A treliça dimensional de suporte à totalidade Weisskopf, Kether
Foucault M. Arqueologia do saber. RJ, Forense Universitária, 1997.
Latour, Bruno; Woolgar, Steve. A Vida de Laboratório, a produção dos fatos científicos. RJ Relume-Dumará, 1997
Marx, Karl. A ideologia alemã

Consultar ainda:

Temática 1 - Sub-Tema: Paradigmas de Investigação em Educação

Com este sub-tema pretende-se a identificação de Paradigmas e métodos de investigação em educação.

Foram apontados como recursos de aprendizagem para esta temática
Educational Research http://www.southalabama.edu/coe/bset/johnson/dr_johnson/2lectures.htm
Social research methods
http://www.socialresearchmethods.net/kb/contents.php
Investigación cuantitativa y cualitativa
http://www.fisterra.com/mbe/investiga/cuanti_cuali/cuanti_cuali.asp

Dissertação de Mestrado - "As TIC no Jardim de Infância: contributos do Blogue para a Emergência da Leitura e da Escrita", de Ádila Ferreira Lopes (fornecida online)
http://moodle.crie.min-edu.pt/file.php/341/moddata/data/16/191/624/Dissertacao_de_Mestrado_junho_2007.pdf

Bem Vindo(a)

Este espaço, aberto a todos os colegas e Professores do Mestrado em Supervisão Pedagógica 2007/2009, da Universidade Aberta, pretende consignar temas e reflexões sobre vivências, experiências e novas aprendizagens, no âmbito da unidade curricular de Investigação Educacional.