sábado, 28 de junho de 2008

Investigação-Acção

Referente à temática da Investigação-Acção deixo-vos um artigo que me pareceu muito pertinente e não muito extenso da autoria de José-Carlos Ferreira de Almeida* retirado de http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?pid=S0873-65292001000300010&script=sci_arttext

EM DEFESA DA INVESTIGAÇÃO-ACÇÃO

Porquê em defesa da investigação-acção? Porque ela tem sido a parente pobre no campo das ciências sociais, dela pouco se falando, sendo insuficientemente praticada, tendo em conta as potencialidades que abrange, e porque, mesmo quando é efectuada, raramente é divulgada fora dos círculos restritos que utilizam os seus resultados. Sobretudo, é muito escasso o número de publicações, livros ou artigos de revistas científicas que dela se ocupam.
Não estou a referir-me apenas ao panorama nacional. O que atrás se aponta é válido no plano internacional. Desde que, em 1948, Kurt Lewin lançou a ideia da action research, tal proposta não foi bem aceite nos círculos científicos. Talvez porque vinha a contracorrente da história das próprias ciências sociais, muito preocupadas, nessa época, em afirmar a sua cientificidade e em delimitar os campos da produção e da utilização do conhecimento, distanciando-se das intervenções e das ideologias. Resta que um manto de silêncio recobriu a investigação-acção e raros foram os autores/investigadores de nomeada que a praticaram — por vezes sob outras designações, em correspondência com as alterações que introduziram para a adaptar às suas próprias preocupações e metodologias.
Mais recentemente — e agora refiro-me sobretudo a Portugal — houve alterações significativas. A generalização da sociologia, depois de 1974, a “explosão” do número de sociólogos que, não podendo ser absorvidos pela investigação e pelo ensino, se disseminaram por vários domínios de actividade, participando muitas vezes em trabalhos de equipa com outros profissionais, levaram a um aumento da preocupação em realizar estudos e levantamentos antes de se passar à fase da intervenção. Tais actuações têm sido particularmente sensíveis em áreas como as do ensino, da intervenção social — incluindo as intervenções urbanas — e da saúde (de que são exemplos estes não nacionais, os trabalhos ditos de participatory research, nomeadamente nos países nórdicos). As designações nem sempre são as mesmas: há quem, conforme os casos, prefira acção-investigação, investigação na e/ou para a acção, pesquisa-acção, etc., mas o fundo e o estímulo são idênticos e é isso que importa.
Há uma questão que julgo relevante e que não tenho visto abordada.
O mundo das ciências e tecnologia tem sido invadido pela noção de I & D (investigação e desenvolvimento), a que têm sido concedidas larga atenção e vultuosas verbas.
As ciências sociais têm procurado, na medida das suas virtualidades, retirar daí benefícios. Mas tem sido esquecido que, dada a sua especificidade e a das tecnologias implicadas pelo desenvolvimento, é justamente a investigação-acção o campo de trabalho que, para elas, melhor corresponde às preocupações implicadas pela I & D — e para esse facto deveria ser chamada a atenção, quer das autoridades financiadoras e promotoras de projectos, quer dos próprios investigadores, daí se retirando as consequências apropriadas.
Interessa apontar, mesmo num texto tão sucinto como este, algumas características da investigação-acção.
Não existe um paradigma da investigação-acção (o que não é de espantar, dados quer a fraca divulgação da sua prática, atrás apontada, quer o próprio carácter pluriparadigmático das ciências sociais). Mas é possível apontar alguns traços que lhe são inerentes.
Com efeito, a(s) metodologia(s) da investigação-acção apresenta(m) aspectos específicos que diferem das metodologias de investigação tout court. O facto de congregar a produção e a utilização imediata ou, até, concomitante, do saber, faz com que ela se inscreva numa lógica própria de um espaço de intersecção: nem a metodologia da investigação “pura”, nem as simples regras da acção imediata. Trata-se de criar uma interface entre duas atitudes/posturas, por sobre o pano de fundo da interpenetração e circularidades complexas entre três ordens de categorias: as das ciências (nomeadamente as sociais), as de tipo político-institucional e as do senso comum.
Não se trata de projectos bicéfalos, mas sim de conjugar/congregar duas ordens de preocupações e, muitas vezes, de agentes/actores. Assim, a orientação de um projecto de investigação-acção implica entrosar metodologias de investigação com praxologias da acção, sem esquecer a viabilidade da execução do projecto no seu conjunto, tendo em conta as contingências e constrangimentos inerentes a qualquer intervenção.
Implica o recurso a sensibilidades que, não sendo as mesmas, se vêem levadas, de forma inequívoca, a serem comunicantes, não de forma incidental, mas de modo estrutural/estruturante. E, não esqueçamos, é necessário, para o bom sucesso de qualquer projecto deste tipo, que se abandonem as tentações hegemónicas de qualquer das suas vertentes. O que envolve também a necessidade de desocultação e transparência por parte de todos os agentes e processos envolvidos.
Tudo o que ficou dito pressupõe que se acha haver vantagens em alargar a prática da investigação-acção. Ela implica o abandono do praticismo não reflexivo, favorece, quer a colaboração interprofissional, quer a prática pluridisciplinar — quando não interdisciplinar ou mesmo transdisciplinar —, e promove, inegavelmente, a melhoria das intervenções em que é utilizada.


*José-Carlos Ferreira de Almeida. Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa. Investigador associado do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

Tema 3 - A Investigação-Acção em Educação - Breve contextualização

Neste espaço é apresentada uma breve contextualização sobre a Investigação-Acção apresentada pelas docentes Prof.ª Dr.ª Luísa Aires e Prof.ª Dr.ª Alda Pereira para lançamento do tema.
A investigação-acção é um método de investigação que pode situar-se no campo da Educação como orientado para a prática educativa. Na sua essência parte do pressuposto de que é possível conciliar num mesmo percurso a investigação e a acção. Cohen, Manion e Morrison (2004)[1] situam-na como uma intervenção realizada num contexto real e sujeita a um exame rigoroso sobre os efeitos dessa mesma intervenção. Kemmis e McTaggart (citados por estes autores) assumem que fazer investigação-acção é planear, actuar, observar e reflectir mais cuidadosamente, mais sistematicamente e mais rigorosamente do que o que se faz na vida diária.
De uma forma muito geral, podemos ainda referi-lo como visando transformar a realidade, propiciar a mudança social e possibilitar que os participantes tomem consciência do seu papel nos processos de transformação (Sandín Esteban, 2003)[2].
Apesar de variações no modo como vários autores conceptualizam este método de investigação, há unanimidade quanto a alguns traços essenciais que o caracterizam: diz respeito a um problema ou situação real, a intervenção é situada no contexto onde esse problema é vivenciado, é realizada pelos próprios intervenientes na acção, pretende contribuir para a mudança e engloba obrigatoriamente um percurso que combina a reflexão com a acção, num processo dialéctico, sistemático e contínuo.
Cohen, Manion e Morrison apresentam o processo de investigação-acção como desenvolvendo-se em 8 etapas:
1) identificação, avaliação e formulação do problema percebido como crítico numa situação quotidiana de ensino;
2) discussões e negociações preliminares entre as partes interessadas - profs, investigadores, consultores, o que deve culminar com uma proposta em draft;
3) revisão da literatura para encontrar o que pode ser aprendido de estudos comparáveis, quer quanto aos objectivos, como aos procedimentos e aos problema encontrados;
4) modificação ou redefinição da formulação inicial do problema; explicitação das mudanças que se pretendem;
5) selecção dos procedimentos de investigação;
6) escolha dos procedimentos de avaliação a ser usados;
7) implementação do projecto;
8) interpretação dos dados e avaliação global do projecto; os resultados globais são discutidos à luz dos critérios de avaliação previamente considerados.

Por sua vez, Sandín Esteban apresenta uma metodologia centrada em 4 grandes etapas, que se repetem em espiral:
1) clarificação e diagnóstico de uma situação problemática para a prática;
2) identificação e definição de estratégias de acção para resolver o problema;
3) executar as estratégias previstas e avaliá-las;
4) apreciação global do resultado tendo em vista uma nova clarificação do problema, dando origem ao passo seguinte da espiral de reflexão e acção.

[1] Cohen, L, Manion, L, Morrison, K (2004), Research Methods in Education, London, RoutledgeFalmer.
[2] Sandin Estaban, M.P. (2003), Investigacion Cualitativa en Educación, Madrid, McGrawHill.

Tema 3 - A Investigação-Acção em Educação - Lançamento do Tema

Nesta temática era proposto o estudo do método da Investigação-Acção de forma livre, importando reflectir sobre a relação entre o método de investigação-acção e a posição pessoal do investigador, sobre as vantagens e desvantagens deste método e sobre os passos determinantes do mesmo.
Foi-nos sugestionada a leitura do artigo de Richard Donato, “Action Research”, disponibilizado na plataforma, bem como a análise da dissertação “Projecto SER MAIS - Educação Para a Sexualidade Online”, de Arménio Martins Fernandes, à luz de algumas questões levantadas.

- O autor justifica claramente a necessidade da investigação?
- O autor explicita os objectivos da sua investigação e as mudanças que pretende atingir?
- Do ponto de vista metodológico apresenta os passos que foram efectuados na intervenção a que se procedeu?
- Explicitou, aquando do planeamento da intervenção, quais os instrumentos que permitiram fazer a avaliação da intervenção?
- É visível no relatório apresentado a existência de reflexão do investigador sobre a intervenção a que procedeu?
- Como são discutidos os resultados da investigação?




Bibliografia:

Cohen, L, Manion, L, Morrison, K (2004), Research Methods in Education, London, RoutledgeFalmer.

Sandin Estaban, M.P. (2003), Investigacion Cualitativa en Educación, Madrid, McGrawHill.

Tema 2 - 2.ª Fase - Reflexão sobre a recolha de dados - Entrevista

A segunda fase ou actividade do Tema 2, relativa à utilização da Entrevista no processo de Investigação, decorreu entre os dias 29 de Abril e 12 de Maio de 2008. Esta actividade consistia na exploração e aprofundamento de conhecimentos sobre a Entrevista no processo de Investigação Educacional. Nessa perspectiva, foram promovidas duas situações de trabalho colaborativo. A primeira, tendo em conta a exploração bibliográfica, a análise em equipa da dissertação de Mestrado - "Processos de Liderança e Desenvolvimento Curricular no 1º ciclo do ensino básico: um Estudo de Caso", da autoria de Eva Filipa Marinho Direito dos Santos e a elaboração conjunta de uma matriz exemplificativa do guião de uma entrevista semi-estruturada que pudesse ser usada como ferramenta auxiliar do investigador (de 29 de Abril a 5 de Maio). A segunda situação de trabalho pressupunha a discussão em fórum, dos trabalhos realizados em grupo (entre 6 e 12 de Maio).
Definiam-se como objectivos desta actividade: reflectir sobre a relação entre o uso da entrevista e os objectivos da investigação; analisar as vantagens e desvantagens da utilização da entrevista enquanto técnica de recolha de dados e reflectir sobre a construção do guião da entrevista, assim como os procedimentos a adoptar na sua aplicação.
Do trabalho desenvolvido durante esta actividade resultou o guião da entrevista semi-estrutrada apresentado pelo grupo verde, já abordado no post anterior. O trabalho de colaboração empreendido pelo grupo decorreu de forma muito positiva, tendo-se alcançado com alguma facilidade os objectivos propostos.
Relativamente à discussão em grande grupo/turma e que culminava com a construção de uma Matriz síntese da turma, tinha-se estabelecido que a coordenação para a construção de um quadro com a apresentação dos elementos da matriz e sua descrição ficaria na mão de quatro elementos representativos de cada um dos grupos. Esta tarefa, dada a singularidade processual adoptada, tal como o cansaço e a pressão de realização de tarefas em outras unidades curriculares, acabou por ocasionar que grande parte dos elementos da turma, nos quais me incluo, se tenha permitido desligar um pouco da construção do quadro referencial da Matriz. Daí resultou a primeira tarefa não cumprida, pela turma, dentro dos prazos estabelecidos. Reconhece-se, nesta situação em particular, o esforço e a dedicação empreendidos pelo Mário Santos na conclusão da tarefa.

Bem Vindo(a)

Este espaço, aberto a todos os colegas e Professores do Mestrado em Supervisão Pedagógica 2007/2009, da Universidade Aberta, pretende consignar temas e reflexões sobre vivências, experiências e novas aprendizagens, no âmbito da unidade curricular de Investigação Educacional.