quarta-feira, 25 de junho de 2008

Pressupostos do trabalho de Investigação


O processo de investigação, como toda a acção humana, traz subentendidos múltiplos pressupostos – sentidos que, tomados como pontos de partida, tendem a permanecer inquestionados. Por um lado, estes pressupostos se apresentam como a própria condição de possibilidade da acção, prática ou teórica; por outro, todavia, toda a reflexão permanece superficial se não se estabelece, igualmente, como crítica de suas próprias bases de sustentação. No caso específico do trabalho de pesquisa em educação, no entanto, é bastante corrente a idéia de que, não podendo ser exaustiva e radicalmente criticados, esses pressupostos que permitem a actividade de compreensão do real não devem estar sujeitos a questionamentos, ou não necessitam de explicitação. São tomados, assim, como definições acabadas, já inteiramente consolidadas, que obedecem a formulações canonicamente definidas pelo processo moderno de produção do conhecimento científico.
Partindo deste entendimento, os investimentos elucidativos sobre a prática de pesquisa acabam por se restringir à escolha a ser realizada, no interior de um cardápio pronto de opções, por uma forma de conceber o sujeito, o objeto, o quadro teórico, a metodologia. Entretanto, a escolha das teorias, das definições de sujeito, dos métodos de investigação, das delimitações do objecto acaba por envolver a adopção acrítica de concepções ontológicas, gnosiológicas e epistemológicas que os acompanham e no seio das quais foram elaborados.
Desfazer a gratuitidade dos sentidos das acções, dos procedimentos e dos discursos implica, assim, a exigência de elucidar os significados não-explicitados que definem, de facto, as acções, os procedimentos e os discursos.
Assim, tendo como preocupação central a discussão dos pressupostos que sustentam a acção investigativa, o objetivo principal deste trabalho é interrogar o significado de um dos elementos do processo de investigação na pesquisa em educação: o objecto de conhecimento, procurando desvelar seus pressupostos e submetendo-os à crítica. Em termos não tão imediatos, o objectivo mais amplo deste trabalho é manter vivas, no seio da discussão e prática da pesquisa em educação, questões que envolvem conceitos, argumentos e idéias que não foram e não são elaborados na reflexão pedagógica e educacional, mas que contribuem no sentido de fornecer elementos para uma compreensão crítica do acto de produção do conhecimento em educação.

Retirado e Adaptado de:

Borba, S; Portugal, A.D.; e Silva, S.R.B. (2008). Pesquisa em educação: a construção teórica do objeto. Ciências & Cognição, Vol 13, n. 1, pp. 12-20, março. Disponível em http://www.cienciasecognicao.org/

Referências Bibliográficas

Cardoso, M.L.(1978). Ideologia do desenvolvimento: Brasil:JK-JQ. 2a. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

Leite, S. B.; Neves, R.M.; Nascimento Filho, L.D.; Machado, J.C. e Borges, M.A. (2004) Pesquisa em educação e conhecimento científico, o problema ainda atual da verdade no debate teórico . Em: Anais do XII Endipe. Curitiba : Champagnat, v. 1. (pp. 1319-1331).

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Este espaço, aberto a todos os colegas e Professores do Mestrado em Supervisão Pedagógica 2007/2009, da Universidade Aberta, pretende consignar temas e reflexões sobre vivências, experiências e novas aprendizagens, no âmbito da unidade curricular de Investigação Educacional.