Esta matriz que constitui um Guião para a realização de uma Entrevista semi-estruturada foi realizada pelo grupo constituído por Bruno Miranda, Carla Alves, Henriqueta Costa, Odília Leal e Teotónio Cavaco.
ANTES/PREPARAÇÃO
O que fazer?
. Criação de uma série de tópicos, nunca demasiado específicos (questões introdutórias, de acompanhamento, específicas, directas, indirectas, estruturadas, de interpretação, pausas e silêncios…), e sua ordenação de forma a obter uma ordem lógica das questões;
. Formulação de perguntas que nos possam ajudar a obter respostas às “questões – chave” no âmbito “geral” da investigação (devemos ter o cuidado de não as tornar muito específicas - estas questões deverão permitir perceber bem os contextos em que se movem os entrevistados, para melhor perceber a sua linguagem e códigos;
. Utilização de uma linguagem que seja compreensível e relevante para as pessoas que estamos a entrevistar;
. Criação de espaços de registo de informações de âmbito geral acerca do entrevistado (nome, idade, sexo), assim como informações mais específicas (anos de serviço, “posição” / “cargo” ocupado, etc.) – este tipo de informação será muito relevante para a contextualização das respostas dos entrevistados;
- Aquisição de bom material (gravador, microfone, etc.);
- Preparação de um sítio calmo e silencioso, com temperatura amena, boa luz, móveis, …) no qual decorrerá a entrevista.
- Verificação da disponibilidade dos entrevistados para a realização da entrevista, mediante um contacto prévio; (neste contacto podemos proceder às seguintes diligências:
* informar o (futuro) entrevistado sobre os resultados que esperamos obter com a realização da entrevista;
* explicar a razão pela qual procedemos à sua selecção, dando a conhecer a importância do seu contributo para a investigação que pretendemos desenvolver;
* informar os entrevistados sobre o tempo de duração previsto para a realização da entrevista;
* combinar a data, a hora e o local para a realização da entrevista.
DURANTE/ REALIZAÇÃO
O que fazer?
O entrevistador deve certificar-se que:
* possui conhecimento da matéria; * é claro, com ideias seguras sobre o que pretende encontrar; * é sensível, gentleman, aberto, crítico; * está preparado para desafios;
* tem sensibilidade estética; * tem boa memória;
* sabe interpretar; * tem capacidade para fazer balanços;
* é paciente e persistente;
. Explicação da entrevista, esclarecendo o entrevistado sobre: * o que pretende o entrevistador e o objectivo da entrevista; * a confidencialidade do entrevistado e das suas respostas; * a necessidade da colaboração do entrevistado, sem constrangimento de qualquer ordem;
. Manutenção de uma distância audível entre o entrevistado e o entrevistador (1 a 2 metros) - em casos de entrevista a um grupo, pode ser vantajoso subdividi-los em pequenos grupos;
. Verificação da existência de condições de privacidade do entrevistado;
. Manutenção do controle da entrevista pelo entrevistador;
. Pedido de autorização do entrevistado para proceder à gravação da entrevista;
. Valorização das respostas do entrevistado: * mostrando compreensão e simpatia; * usando um tom informal, de conversa, mais do que de entrevista formal; * apresentando a questão oralmente e por escrito (combinação das duas linguagens!);
. Condução da entrevista: * início com questões fáceis de responder (para pôr o entrevistado à vontade); * ir pedindo ao entrevistado para dizer em voz alta o que está a pensar, o que pensou em fazer, se está com alguma dificuldade na resposta, …; * evitar influenciar as respostas pela entoação ou destaque oral de palavras; * pedir exemplos de situações, de pessoas ou de objectos que o auxiliem a exprimir-se; * apresentar uma questão de cada vez; * explicitação da aceitação pelas opiniões do entrevistado (entrevista diferente de exame);
. Registo com as mesmas palavras do entrevistado, evitando resumi-las, anotando, se possível, gestos e expressões do entrevistado;
. Gestão do tempo de conversação, parando antes do tempo previsto (nunca mais de 1 hora), se o ambiente se tornar demasiado constrangedor;
. Término da entrevista como começou, num ambiente de cordialidade, para que o entrevistador possa voltar (se necessário) e obter novos dados.
DEPOIS/ ANÁLISE
O que fazer?
. Audição das respostas;
. Transcrição integral das respostas, num prazo muito curto, para evitar perder expressões e frases significativas;
. Elaboração de um registo, sob a forma de notas, acerca de:
* local onde a entrevista decorreu;
* modo como a entrevista decorreu, nomeadamente os aspectos alusivos ao “comportamento” verbal e não verbal do entrevistado (foi cooperante? falador? estava nervoso? etc.);
* ambiente que rodeou a entrevista: sossegado /“agitado”, muita gente / pouca gente, edifício novo / edifício antigo, utilização de computadores?, etc.
. Inferição sobre o grau de liberdade com que estas (respostas) foram dadas.
. Verificação dos requisitos dos dados fornecidos pelo entrevistado: validade – comparar os dados com uma fonte externa; relevância – importância em relação aos objectivos; especificidade e clareza – referência com objectividade a dados, datas, nomes, locais, percentagens, prazos, etc.; profundidade – relacionado com sentimentos e lembranças do entrevistado, sua intensidade e intimidade; extensão – amplitude da resposta;
. Análise das respostas através de medidas estatísticas: * determinar as percentagens das opções de resposta em cada item; * calcular a moda das variáveis qualitativas; * calcular as medidas estatísticas (média, mediana, desvio padrão, desvios, …) das variáveis quantitativas;
. Preenchimento da grelha de registo;
. Segunda audição das respostas;
. Envio aos entrevistados para validação (sempre que há um guião, deve ser validado por especialistas);
. Utilização da informação para o levantamento de hipóteses mais “seguras”, no que respeita à autenticidade das respostas obtidas (pré-análise);
. Classificação das respostas;
. Codificação (por motivos éticos - anonimato);
. Interpretação dos dados obtidos;
. Discussão dos dados, à luz da teoria.
. Elaboração de um relatório, no qual consta: * a metodologia do inquérito, incluindo a selecção da população e da amostra e a justificação, elaboração e a validação do instrumento da recolha de dados; * uma descrição da recolha e do tratamento dos dados;
. Apresentação da análise dos dados (tabelas, gráficos, resultados estatísticos, semelhanças e diferenças nas respostas dos entrevistados, padrões de declarações e correspondência com características individuais);
. Explicitação das conclusões da entrevista (síntese, resultados, reflexões, implicações, sugestões, …);
. Disponibilização dos materiais utilizados (anexos, bibliografia, dados...).